Escrevo inflamada. Vista embaçada. Veias duras. Mel roendo os dentes. Dentes melando mel. Escrevo inflamada. Hoje mesmo a verdade me bateu à porta sutilmente: pediu-me que eu atentasse para o prejuízo. Porque é prejuízo viver assim sem juízo, aluada como manda meu coração. Aluada feito lua nova, feito ninfa do mato, feito menina antiga. A cabeça quase cai, guilhotinada como um bom castigo para uma alma em chamas. Chamas de um inferno lindo, azul e vivo.
Meus pulsos apertam. Apertados na corrente que me pus. Por proteção e amor. Agora sim eu escrevo de verdade que nem gente adulta. Não mais inflamada. Não mais louca. Nem mesmo olhando pra lua num desatino suave. Não. No centro. Pulsos apertados, olhar reto, o agora: o agora é assim, suave e manso. Ouço com delicadeza os sons do mundo: cantam morte num riso gostoso. Bradam poder fingindo amor. Mas eu volto. Ao centro. O centro é aqui, onde são ditas coisas certas. Direitas. Moça direita. Mulher inteira. Andando erguida, firme, mas por favor, que sejam femininos os passos. Assim, delicados. Firmes, delicados, gentis. Bom dia, boa noite, muito obrigada e até amanhã. Perdoe-me qualquer coisa, às vezes sou desastrada. Erro a linha da estrada. Mas eu volto, eu volto pra linha bem depressa. Tenho pressa. Não, não, a inflamação era uma doencinha besta que já tratei de curar. Pedi umas pílulas. Remedinho bobo, barato, coisa pouca. Isso. Sou saudável. Feliz. Contento-me com a beleza do raiar do dia por trás das grades da janela. Nunca um pensamento mau. Nunca a inveja. Nunca o ódio. Sou flor de laranjeira, borboleta azul, Estrela Dalva. Alva.
Amanhã eu acordo sem centro. Feliz na falta de centro. Lá e cá, cá e lá, boa e má. Um monstro com alma de anjo, demônio que faz caridade. Amor em chamas. Coisinha simples, incabível. Gosto desses pequenos instantes adolescentes que me tornam mais crescidinha na manhã seguinte. Ilusões de amanhecer.
Rebeca
domingo, 13 de abril de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
3 comentários:
e quem não for assim que atire a primeira pedra, mas que seja ao menos um diamante!
Bjo
Rebeca,
você é toda mel. Mesmo onde é inferno.
Beijos com saudades.
Ouvi dizer por aí que viramos realmente adultos quando a agir preocupados com os prejuízos, com os sentimentos dos outros.
Mas não acho que amar incontrolavelmente, em chamas, seja coisa de criança. Pra mim é coisa de gente bem entendida, que sabe o que quer. Mas essa sou eu.
Blog legal esse aqui. :)
Postar um comentário