domingo, 21 de setembro de 2008

Amores, busco força.

Força. Força. Força. O que me abre é nada, queridos. Vejo-me aqui num vazio de sentido - esse vazio jovem e tolo, esse vazio que seria belo se os tempos fossem outros e o mundo não me exigisse uma resposta rápida: uma direção clara. É claro! Cristalinamente adulta. Confiável. Fiando-me na contagem de pontos que enquadram o certo no lugar do certo e o errado no lugar do errado. O resto vai para o limbo. O limbo das crianças. Nem céu, nem inferno. Cristalinamente adulta, devo agora escolher: lá ou cá? É turvo, é turvo. É um túnel infinito sem luz ou estrela. É minha pele estendida, cheia de poros. Minha pele arrepia amor. Amor que é turvo em dor. Melado em saliva. Doente, vivo, forte. Eu nasço às vezes, nas pontas dos meus dedos. Sou toda carícias. Água turva e feita de mel e ferrão. Abelha rainha matando tempo.


O limbo das crianças sem fé. Não tenho ídolos além de papai: ainda assim, prefiro ser edípica a ser besta. A berrar feito tiete diante de um poeta morto. Fio-me na contagem de pontos porque devo. Tenho quase pontos suficientes para subir um degrau, e mais outro. Peço delicadamente o amor dos acadêmicos: sou dona das palavras fáceis, por que não dominaria as difíceis? Domino. Domino porque sou agora dominada. Submissa. Só deus sabe. Só deus sabe o quanto é turvo mas também o quanto é necessário. Ou: quem é que vive se alimentando de sonhos? Da fé na boa família e na felicidade? Eu como e bebo um pouco do veneno diário que me faz subir aos céus e sentar à direita do deus poderoso que dita as regras do momento. Digo palavras confiáveis para gozar de um poderzinho de nada. Mas quero mesmo é casa, comida e todas as minhas lembranças guardadas numa caixa. Àqueles que com discursos falseiam o amor eu atiro pérolas, como aos porcos. Há muita majestade no mundo e é de fingir servir que a gente morre um pouco a cada dia. É de servir de verdade que a gente já morreu e não sabe.

Eu nado no limbo, queridos. E não há veneno algum num lugar tão longe do céu.