terça-feira, 5 de agosto de 2008

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Ah não! Juro que tentei reclusa, em prece pedi para que ninguém fizesse barulho algum, que casa alguma fosse ocupada, sem luzes acesas, sem visita. Mas foi trazida até aqui e vi o ainda pulso em vida e quis gritar para que calassem!

Ah todo esse tempo e distância! Essa mudez fez com que eu entrasse em contato com coisas, meus queridos. Coisas essas que, de fato, não conceberiam que eu as tivesse conhecido isenta de goles ébrios.

Mas assim foi.

Descobri que dentro de mim há legiões angelicais e demoníacas. Os dois grupos juntam-se formando um grande Deus e um grande Demônio. E eles convivem aqui dentro, bem grandes e se alastrando por meus poros.

Nada disso me choca. Meu medo é não saber até onde podem eles alcançar.

E se meu excesso de Deus aflorar? Rasgar-me-ei de uma bondade a qual não quero. Deixar-me-ei livre de todos os caprichos e encantos que me decoram, terei de olhar-me feia ao espelho porque cultuarei uma beleza que de dentro pequenina transitará para o fora. Não quero! Não quero não me deliciar com os abusos, as cores, os cheiros e os prazeres. Não quero esperar complacente a diretriz de um mundo sem que eu possa girá-lo. Não!

Não quero me distanciar do que me faz humana e por isso peco deliciosamente. Mas se eu dele me desfizer? Se tirar todo esse Deus do dentro?

Só o Demônio, então. Até onde eu iria? Ah, cuspiria sem escrúpulos nas caras sujas dos que me sangram. Diria todas as verdades com palavras duras e nada rebuscadas até que visse escorrerem lágrimas de sangue em todos os outros que a mim olharam de maneira atravessada. Atropelaria todos que cruzassem meu caminho. Contaria os segredos alheios que guardo justamente para quem nunca os poderia saber. Acabaria com vidas e riria em gozo. Desmentiria todas as juras que são criadas para uma boa convivência. Não! Não posso assim ser!

Não quero me distanciar do que me faz humana e por isso não poderia ser assim tão cruel! Em meu peito dói um coração ao entrar em contato com as maldades do meu Demônio particular e não posso deixá-lo tomar conta de minhas cavidades todas e fazer de mim um inferno.

E agora que sei que assim sou? Sensível e incapaz de nortear até onde vai minha bondade e maldade tenho evitado quaisquer excessos.

Amar, sorrir, acolher, comer, beber, dançar, odiar, prazer, escrever, falar. Cada um desses pode me levar a uma bondade e/ou maldade desqualificadora de mim.

Só que sem esses excessos me perdi. Deformada estou por isso tranquei todas as portas e janelas, mas vi pela fresta a luz que vocês acenderam e já não sei se lhes agradeço ou mato...

Um sinal de quem não é mais Julieta.

2 comentários:

Samya Peruchi disse...

na na na nao...vao se foderem!!!que todos os excessos se criem trasnformem e tomem vida, p assim libertarmo-nos de todas as dores e prazeres a mais q nos consomem.
eu acendo a luz e apago qtas vezes vc quiser, e por qto tempo for necessario p que possamos nos dar conta do real possivel e do real impossivel, e assim viver! bem, e desbravadoramente despudorados, tocados, amados e firmes!

impotencia x potencia

alea jacta est

Anônimo disse...

Saudades, minha inspiradora Julieta.