domingo, 23 de março de 2008

A ambulância está parada à porta. Foi então que recebi o beijo gélido e em meu coração senti escorrer sangue de solidão. Tem piedade de mim, também perdi um amor para a guerra.

Recebi sua carta agora a pouco. Segurei-a firme como quem encontra algo que há muito tempo procurava, passei-a pelo nariz para captar o que ainda restava de seu perfume. Mas ainda não li – resisti bravamente. Quero antes escrever-te e só então vou lê-la, como recompensa a esta dívida que tenho.

Um grito de solidão ecoou na minha rua hoje. Senti que algo morria – e que junto, algo também morria em mim. Mas voltei a dormir, era tarde da noite e eu sempre tive o desejo de morrer dormindo. Quando acordei pela manhã – antes da hora como de costume, achei um telegrama sobre as trouxas da lavanderia na porta da frente. Nele constava: NOSSOS PESARES. DEPARTAMENTO DA GUERRA.

Gélido.

Só o que consegui fazer foi acender um cigarro [e aí então é que pensei – acho que é por isso que minha mãe fuma tanto]. Senti o meu ventre de papel postiço murchar. Tenho 10 segundos agora se quiser viver.

Não gosto de escrever sabendo que tenho um público. Quero aprender com você a ser “sempre-viva” que se sustenta em vaso a despeito dos voyeurs.

Foi então que vi meu corpo ir ao chão: Sainte Thérèse de l’Enfant Jésus, ne m’abandone pas, faire moi ressuscité.

Nenhum comentário: