domingo, 23 de março de 2008

Pois é a mim que escrevo: ecos da solidão. Repito sozinha aquilo que andei contando pra mim. Se peço ajuda a você, entendo logo que não pode estar em meu corpo. Perdoe-me, é raiva. Ira. Ódio. Convulsão. Mas tudo em mim é plácido. Tenho cara de domingo. Porque o amor é incerto e a amizade não sobrevive às convicções. Convicções dizem sim e não e ponto final e depois se calam. Bom seria se não fosse bem assim. Cansei. Cansei e rezo pra reaprender a rezar: quero uma antiga convicção que nunca foi convicta. Como quando eu me perguntava se Deus existia e, só de duvidar, já sentia culpa. Pode também ser um pouco de ressentimento. Refiro-me a isso que sinto: pode ser ressentimento. Mágoa ao quadrado. Silêncio profundo. Flores murchando absurdas. Digo: nada. Tem som de leite batido. Bate que bate que bate que bate. Pedi tantas vezes pra ser de verdade, mas minha verdade acontece entre paredes, muro, concreto e asfalto. Verdade não é só verdejante, cheiro de mato e brisa do mar. Verdade é asfalto, parede pintada, boneca de plástico, computador na sala. Brincar em segredo. Fazer promessas. Pedir que o diabo não me carregue. E, mesmo assim, não mais crer nem em diabo, nem em Deus, nem em anjos. Digo palavras difíceis. Ninguém entende. Então me calo. E tento ser de verdade. Rir de verdade. Repetir clichês: "pois o importante na vida é sobreviver às mudanças." Contar que eu morri é exagero. Ainda há um tudo que respira em mim. Um medo fumegante. Sou toda mulher. Mesmo que meu espelho me destroce toda.

Rebeca

Um comentário:

Cora disse...

Nunca tive convicções, nem as quero ter... faço corpo leve e que me leve a maré mais forte... ou só o vento... rs
Bjinhos