segunda-feira, 10 de março de 2008

Meus caros,

Tenho pra mim que preciso disso. Dessa coisa de inventar. Ela e ele num desencontro - porque de encontros não é preciso falar. A felicidade e o amor são silenciosos. Portanto, quando mais insisto em dizer, mais eu me traio: confesso sem querer que o amor repousa e que a felicidade me faz apenas umas esporádicas visitas.

Ela e ele num desencontro. Faço agora a cena. Foi uma noite qualquer, a bebida na mesa. Ela se vestia de encantos pra nada. Ele buscava nela um tudo. Pois que elas, elas encantam pra nada. Não havia razão, apenas era eloqüente, bela e sexy. Inteligente, viva e forte. E ele, pasmo. Mesmo depois da bebida, da dança e da fantasia, ainda assim pasmo. Porque quando morria nela a eloqüência, ele apressava-se em fazer-se dela a voz. E quando nela falhavam os encantos, ele era um tímido boquiaberto e a inventava mulher.

Se rendeu? Digo que não. Ela cresceu em glória e nem notou seu benfeitor. Esparramou-se num sexo úmido e quente que ele mal sabia conduzir. Amou o nada do espelho e correu ávida por ser amada na carne. Coisa que ele, aliás, mal sabia fazer. Amava-lhe a alma, os dentes, a íris. Num infinito e dolorido amor infante. E ela buscava o mau amor dos homens. Desses de esparramar no tapete e ter medo do fim.

Não sei, é claro, dizer se posso amaldiçoá-la de fato. Por vezes me vem essa vontade. Outras horas, porém, entendo o desencanto: é que a pureza não constrói caminhos. Sujando-se, ela faz um amor bonito e espera aflita o dia da aliança. Mas está tudo manchado. O amor é raro.

Pois sim, é raro. Digo a vocês e não dou esperança. Não sou de brincar com coisa viva.

Dura e ocamente,

Rebeca

Um comentário:

Cora disse...

Eu me doí tanto deles que fiquei verdadeiramente triste... é q me vejo um tanto em ambos... como se, ainda sendo capaz de dar o "infinito e dolorido amor infante" já não esperasse o mesmo em retorno... como quem conserva a ingenuidade perdendo a inocência!
Mas que fique claro ao universo que não quero ser diferente... não, não!
Bjinhos