domingo, 27 de janeiro de 2008


Meu amado,

Parece que não dou sossego para suas palavras, logo respondo como num respiro descompassado, e sabe por quê?

Ah, é que sua aflição, seu gozo preso por entre os músculos, seus sentimentos genuínos, ou não, me carregam para um alto de penhasco-mãe. Um lugar onde me sinto responsável por sua vida e nela gostaria de ao menos embalar cantigas reconfortantes para que seu sono seja tranqüilo e que as manhãs jorrem café forte e quente.
Nego-me a pensar na possibilidade de que seja atropelado pela fome canibal das feras que nos tolhem os mais secretos desejos. Sonhe.

Permita-se sentir, nem que em coleção de raros momentos, a alegria da criança que é dona de poucas, mas preciosas pedrinhas recolhidas ao longo do caminho e deixadas no bolso até o esquecimento.

Não se engane meu amor, mentira dos que dizem que a febre é defesa do corpo!
Esse alvoroço não doença, é o sinal de que é chegada a hora de não ter chão, portanto, não se preocupe, não terá mapa algum que melhor lhe aponte o rumo do que a boca em que se beijam as palavras que tanto procura e escapam.

Não acredite que eu entendo do que nesse momento lhe sussurro. Não vivi intensamente nada que possa parecer digno de entender tais mistérios, mas minhas entranhas é que de maneira sutil ditam essas linhas contorcidas e chego a acreditar no que digo...

E se as contrações de um parto são dolorosas, o seu riso que apenas eu capturei – o que tenho guardado feito fotografia na alma; aquele que você não sabe que faz e muito menos como faz – abranda a dor e se quiser permito que nasça quantas vezes for preciso e cedo meu corpo, meu útero intacto, só para que sorria novamente.

São tantas as coisas que queria te dizer, mas escapam dentro de minha caixinha de costura e levam consigo todas as agulhas que nunca encontro para pregar botões ou quem sabe as flores bordadas para um novo amor (Ah Rebeca, sei que me nesse instante me lê e reconhece).

O que de fato não me falha agora é a visão que tive, confia em mim? Acompanhe-me neste vestígio de vida.
Caminhava por entre ruas por debaixo de gotículas finas de um fim de dia qualquer, passava por entre casas e observava a vida e os signos por entre as janelas que insistiam em abrir, mesmo com o clima não tão agradável. Em apenas uma janela, vasinhos pintados com a mais florida paisagem, como se a primavera perseverasse. Não estava só, mas sim, junto sua mais cúmplice companhia – seu coração, seu domingo nublado, seu filme francês, sua canção ao pé do ouvido – e colocavam à mesa xícaras e um bolo quente de fubá. Olharam para o lado de fora e a mim encontraram e num aceno chamavam-me para dividir tal tarde de inverno.

Não tema, aprenderá...

Não tema, já está tudo pronto escondido em algum canto ainda secreto, inclusive o chá que tomaremos na tarde sonhada.

A quem de tanta paixão, num lapso, denominou-se Di, com amor que invento a cada santo dia,

[T.H.]

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