Minhas queridas pervertidas (ou apenas minha querida),
De já uma pausa! Preciso respirar profundamente antes de dar seqüência às palavras que me acontecem agora.
Pronto.
Não sei como é para vocês, mas escrever sempre me força à postura (já escrevi isso em outro lugar – mas me ajuda a começar agora). Ponho o quê?
Antes de qualquer coisa, quero meter o corpo. Escrevo a vocês inteiro, meus amores, aos pulmões arfantes. E nisso está incluso “aquilo” em mim que só existe como captura e não como captado. É sempre um exercício de linguagem, o qual levo a cabo muito cansado e dolorido. E a dor é sempre a dor de um parto. Sempre tento chegar desse modo. “Você que me lê agora me ajude a nascer”!
Cá estou gozando. Despertei queimando esta noite e é também porque preciso que estou aqui. Em que estado de corpo? É sempre
Pulei da cama esta noite em desvarios de febre-amadora para criar um corpo junto ao meu que me devolvesse o pulsar do tempo.
Mais uma pausa! Respirar ficou difícil.
Há quase uma semana perdi meu rosto. Estou em carne viva-apaixonada e me recuso a olhar no espelho – existe um menino vivo lá dentro, como pode?. Por um desatino de ardência morna precipito meu corpo. Preciso inventar um rosto-a-dois já - uma face comum.
Preciso de um mapa para me orientar, minhas queridas. O meu corpo é repuxado para frente, para trás e para os lados. Amo de longe. Sou tão simples e sem mistérios. Nunca precisei estender tanto a pele para chegar em algum lugar. Mas é sempre Uma Aprendizagem, Lóri - ou o livro dos prazeres.
Perdi meu rosto e pela primeira vez não estou assustado. Estou em uma ternura-febril: tenho que inventar tudo, aprender a me guiar nisso que me aconteceu de mais alegre. Estou a ponto de inventar-a-dois o tempo, o espaço, a presença, o sabor, o beijo – o amor. E a invenção dói a dor de uma distância que preciso reinventar para me aliviar as contrações desse parto.
Meu corpo treme todo de desejo. Assim, de repente.
E então sinto com toda a certeza deste corpo que não estou conseguindo. Amar só é fácil pra quem teve muito carinho. Inventei um amor em que preciso acreditar agora – como um último suspiro
Apelo então para a aprendizagem. Tento apreender “isso” que brota em mim e aprender a me guiar por ele-a-dois. Assim porque quero tanto, quero já e da forma que me puder ser. E desse modo, aprendendo, vou sentindo tudo mais junto. O tempo pulsando no meu punho. O mapa ganha um novo desenho. E instantaneamente tenho um gosto, um cheiro… um beijo.
Preciso respirar novamente. Não consigo achar mais as palavras.
Agora sim,
Eu que me apaixono angustiado preciso achar “com” o ponto nevrálgico da ternura. Precipito meu corpo e sinto que posso cair no instante que se sucede. Mas aprender é o que não me deixa sozinho. Como um cabo que me suspende e me poupa do abismo. O rosto-a-dois ganha então uma consistência à moldar. Papel marché de carne-viva-apaixonada.
Aprender exige de mim tempo, e só posso passar por ele “com”, jamais só. Há alguém que segure minha mão? É isso o que espero da alegria.
Uma faceta conjunta, é o que desejo inteiro agora.
Com febre e rosto úmido...
Di
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