sábado, 26 de janeiro de 2008

Minhas queridas pervertidas (ou apenas minha querida),

De já uma pausa! Preciso respirar profundamente antes de dar seqüência às palavras que me acontecem agora.

Pronto.

Não sei como é para vocês, mas escrever sempre me força à postura (já escrevi isso em outro lugar – mas me ajuda a começar agora). Ponho o quê?

Antes de qualquer coisa, quero meter o corpo. Escrevo a vocês inteiro, meus amores, aos pulmões arfantes. E nisso está incluso “aquilo” em mim que só existe como captura e não como captado. É sempre um exercício de linguagem, o qual levo a cabo muito cansado e dolorido. E a dor é sempre a dor de um parto. Sempre tento chegar desse modo. “Você que me lê agora me ajude a nascer”!

Cá estou gozando. Despertei queimando esta noite e é também porque preciso que estou aqui. Em que estado de corpo? É sempre em apaixonamento. Meu corpo cozinha todo em uma febre branda e então amo. É um tal apaixonamento que borbulho por dentro e minha respiração fica assim, descompassada.

Pulei da cama esta noite em desvarios de febre-amadora para criar um corpo junto ao meu que me devolvesse o pulsar do tempo.

Mais uma pausa! Respirar ficou difícil.

Há quase uma semana perdi meu rosto. Estou em carne viva-apaixonada e me recuso a olhar no espelho – existe um menino vivo lá dentro, como pode?. Por um desatino de ardência morna precipito meu corpo. Preciso inventar um rosto-a-dois já - uma face comum.

Preciso de um mapa para me orientar, minhas queridas. O meu corpo é repuxado para frente, para trás e para os lados. Amo de longe. Sou tão simples e sem mistérios. Nunca precisei estender tanto a pele para chegar em algum lugar. Mas é sempre Uma Aprendizagem, Lóri - ou o livro dos prazeres.

Perdi meu rosto e pela primeira vez não estou assustado. Estou em uma ternura-febril: tenho que inventar tudo, aprender a me guiar nisso que me aconteceu de mais alegre. Estou a ponto de inventar-a-dois o tempo, o espaço, a presença, o sabor, o beijo – o amor. E a invenção dói a dor de uma distância que preciso reinventar para me aliviar as contrações desse parto.

Meu corpo treme todo de desejo. Assim, de repente.

E então sinto com toda a certeza deste corpo que não estou conseguindo. Amar só é fácil pra quem teve muito carinho. Inventei um amor em que preciso acreditar agora – como um último suspiro em vida. Mas como é que se acredita no que é inventado? E isso me corta o coração.

Apelo então para a aprendizagem. Tento apreender “isso” que brota em mim e aprender a me guiar por ele-a-dois. Assim porque quero tanto, quero já e da forma que me puder ser. E desse modo, aprendendo, vou sentindo tudo mais junto. O tempo pulsando no meu punho. O mapa ganha um novo desenho. E instantaneamente tenho um gosto, um cheiro… um beijo.

Preciso respirar novamente. Não consigo achar mais as palavras.

Agora sim,

Eu que me apaixono angustiado preciso achar “com” o ponto nevrálgico da ternura. Precipito meu corpo e sinto que posso cair no instante que se sucede. Mas aprender é o que não me deixa sozinho. Como um cabo que me suspende e me poupa do abismo. O rosto-a-dois ganha então uma consistência à moldar. Papel marché de carne-viva-apaixonada.

Aprender exige de mim tempo, e só posso passar por ele “com”, jamais só. Há alguém que segure minha mão? É isso o que espero da alegria.

Uma faceta conjunta, é o que desejo inteiro agora.

Com febre e rosto úmido...

Di

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