quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Fragmento #2

Achei.

E sinto que isso vai me matar. Sinto que se entrar nisso que me toma agora estarei morrendo aquela morte pesada (aquela que transformam em leve demais): a que vai ficando rarefeito em mim aquilo que faz de uma vida uma sucessão de mortes instantâneas.

O meu corpo todo sem contorno está gelado agora, Rebeca, e à espera. Espera que você espalme as mãos, escolha dois dedos e passeie por ele traçando desenhos em minha superfície líquida. Preciso dessa sua compaixão, me ajude a ganhar agora um traço efêmero que seja nessa minha consistência aquosa.

E o que me incomoda sempre é que cá estou vomitando orações gigantescas, mas que com todo esforço não consigo emitir som algum. Não grito Rebeca, T.H. ou Aleluia porque sei que não vão me escutar. E bem aqui, pertinho da ponta do lápis, há um mundo inteiro de acordes que escuto pelas pontas dos dedos vibrando na madeira.

Isso me enche de uma tranqüilidade vestida pelo avesso. Nesse mundo vasto haver muito grafite e tinta faz ecoar estrondos gráficos. O que escrevo aqui dá choques. E isso não é um desperdício de música.

Mas não posso mais continuar agora. Preciso digerir o que rabisquei até agora para juntar com o que se segue. Volto pela noite.

Beijos

D.L.

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