sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

De quem não tem o que falar:

Bem,

Que vontade de encher esta página com reticências. Mas reticente não é bem o termo. Eu que sou mágico não consigo deixar omisso 1 metro e 95 de carne-viva.

Carne-viva-apaixonada é que nem erva daninha, quanto menor o tempo, maior é a intensidade com que se espalha.

Sabe qual é o problema das palavras, meu amor? É que nunca se consegue chegar totalmente com elas. Sempre termino insatisfeito quando tenho que recorrer à língua. Ela é intrinsecamente pesada e é por puro dengo que faço dela algo leve. Termino porque sinto que preciso parar, mas nunca porque alcancei o termo. Aquele ponto todo nervo do real.

Não sei se você consegue me entender. Até agora nem parece ter sido o caso. Mas logo darei algo para que você possa juntar.

A minha verdadeira língua, a língua primordial, é ainda intocada e toda informe. E de forma alguma há aqui hesitação. Tem muito corpo pairando o abismo que por pura aprendizagem não vira corpo caído entre espelhos.

E eu sei! Não vou me dar nem ao trabalho de te deixar explicar, simplesmente sei – é tecnologia de ponta: Todo esse corpo-carne-viva-que-paira-e-aprende. Sou de gostar assim: a cada passo que dou, gosto e me arrependo. Há em mim sempre uma ingenuidade medrosa. Gosto como criança gosta de doces. Inteiro.

Mas aprendizagem só consegue ser se for riscando. É já de Maternal que aprendi a ligar pontos e completar figuras com riscos. Aprendi que não poderia ter um nome se não fosse também riscando – eis-me!

Vou dar um tempo agora.

Voltei.

o que me acontece agora não dói. Felicidade dói. Alegria não. Mas o que capto agora não é alegria. É algo como o que senti ontem quando terminava de ler um livro – talvez agora eu escreva algo que você possa juntar. Sabe como se sente quando algo termina abruptamente? Deve ser o mesmo que se sente quando se acaba de morrer. “É como se a vida dissesse o seguinte: e simplesmente não houvesse o seguinte. Só os dois pontos à espera.”

Mas só de birra não vou ficar triste. Vivo de passagem. E ainda fazendo pirraça. E sempre fui de me curar muito rápido. O que de forma alguma deixa as coisas mais leves. Elas têm o mesmo peso que teriam se eu levasse dias moribundo em uma cama.

E assim não há o que lamentar. Não gosto de quem faz da insuficiência analogia do lamento. Ou de quem faz da morte algo mais leve do que precisa ser. É que nunca gostei de sinônimos.

Bjos

Eis, afinal e enfim, o que não quero mais!

D.L. (Di)

4 comentários:

Anônimo disse...

Nao se trata de segredos...
Mas voce tem escrito bastante, e forte e fragil...
Nao quero arriscar e nem pretendo ser arrogante ao ponto de ousar palavras como as de cima. Cheias de pontos. Desejando reticencias . E viva. E falando de morte.

Acho que voce tem encontrado caminhos...apesar de andar assistindo LOST!Faz parte de mim esses trocadilhos, e nao eh segredo!

Sinto sua falta.
(Isso era um segredo).
Te amo
beijos

Anônimo disse...

a leveza... tb não gosto quando a inventam onde não existem. é banalizar e leveza e debochar do peso.

D. L. disse...

PÓS-ESCRITO que só achei hj: “Mas eu denuncio. Denuncio nossa fraqueza, denuncio o horror alucinante de morrer – e respondo a toda essa infâmia com – exatamente isto que vai agora ficar escrito - e respondo a toda essa infâmia com a alegria. Puríssima e levíssima alegria. A minha única salvação é a alegria.” -> Água Viva.

Beijos alegres

Anônimo disse...

Vc está coberto de razão.
Viva, ria muito, seja feliz...
E não se preocupe, aqui se faz, aqui se paga...
Abraços.

Gu