
Mas não agora. Do que é que você se despede eu nem sei bem, mas não se vá agora. É Carnaval e noite escura e à noite - sozinha na praia - sempre há um homem perseguidor. Fantasio-me agora de Chapeuzinho Vermelho. Ou de Lolita-andando-a-passos-lentos: pra ser pega.
Não, não vá agora. Assista a isso, por favor. Eu não faço meus desatinos sem platéia, e você é uma platéia adorável, meu Dorian morto de amor.
É um vento frio. E eu peço, imploro, exijo que sintam o calor-líquido vertendo aqui, bem aqui. Nada mais belo para uma noite fria do que uma mulher - bela ou não - pronta e inteira para o amor. E assim me fantasio, Dorian. Como Odalisca em chamas. Conhecedora de incensos, essências e massagens nos ombros. Mas a luz é fraca. No instante seguinte, o escuro me prega uma peça: à meia-luz, sou apenas um molequinho que solta pipas. Um coelhinho escondido na toca. Um passarinho azul. Tudo na imaginação lúdica de uma platéia enternecida: "coisinha linda feita pra fazer sorrir"!
Rebeca. Rebeca. Rebeca. Repito meu nome e entendo que isso é um nome de mulher. Chamo meu nome a todo instante, busco-o no escuro perseguido pelo homem de más intenções ou num perfume maldito de final de dia, encontro-o em papeizinhos com cheiro de jasmim e num amor violento que dói pra valer à pena.
Entenda, querido: peço que fique, porque você, sim, conhece meu nome. Grite "Rebeca" ao molequinho das pipas ou ao coelhinho da toca e, de repente, o mundo inteiro ganhará ondas de mar, amor e gozo. E, de repente, eu vou nascer. Grite "Mulher" a qualquer forma viva que encontrar no mundo, e o calor-líquido-gozo-vivo fará brotar o universo em flor. Não lhe peço perdão pela loucura de hoje: no Carnaval eu posso dizer que todo nascimento é fêmea.
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Rebeca
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